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Até quando você vai deixar o outro magoar você?
por Rosana Braga
Vitória namorava André há 3 anos. Desde o início do relacionamento, André se mostrou uma pessoa instável emocionalmente. Ora estava bem,
carinhoso e receptivo. Mas por uma desavença ou outra, tornava-se agressivo, intolerante e distante.
Com o tempo, Vitória também se tornou reativa e menos tolerante. Criaram, sem perceber, uma dinâmica onde um "batia" e o outro "apanhava".
Nunca se tratou de violência física, mas os dois se magoavam constantemente. E já não era possível saber quem provocava a reatividade no
outro ou se tornava reativo primeiro.
O fato é que quando André estava agressivo, Vitória batia de frente e eles brigavam feio ou ela se comportava de modo submisso e depressivo. E
quando era Vitória quem se exaltava, André baixava a bola e tentava apaziguar a situação ou gritava e discutia com ela.
Terminaram e voltaram várias vezes. E nessa dança entre desejo, dependência, baixa autoestima e defesas, iam se desgastando e desgastando a
chance de aproveitarem o encontro e os sentimentos bons que certamente nutriam um pelo outro.
Claro que cresciam e aprendiam com todas as dores que se infligiam, mas o custo era muito alto. Poderiam, com um pouco mais de
autoconhecimento e consciência, aprender a lidar com as diferenças e ganhar em maturidade, cumplicidade e amor.
No final das contas, o segredo está na comunicação. Primeiro aquela que André e Vitória têm internamente, consigo mesmos. O que cada um diz
para si, quais crenças e valores carregam desde muito antes de se conhecerem. O que realmente querem para seu futuro próximo.
E depois, a comunicação entre eles. Enquanto não houver sintonia e coerência entre o que cada um sente, pensa e fala, não conseguirão se
compreender e encontrar um caminho que seja razoável para os dois. Quem ama, fala! Quem ama, mostra!
Falar e ouvir é um dueto que garante grande parte da felicidade num relacionamento. Falar com clareza. Ouvir com disponibilidade. Falar com o
coração. Ouvir com a alma. Falar para oferecer ao outro o melhor de você. Ouvir para receber o outro com o melhor que tem em si.
Vitória começa a se dar conta disso. Começa a se olhar mais e descobrir que só pode mudar a si mesma. De que nada adianta tentar mudar
André ou se colocar no lugar de vítima, acreditando que é ele o motivo de todos os problemas do namoro.
Vitória começa, sobretudo, a aprender que não precisa agredir ou se deixar ser agredida quando discorda da opinião de André ou quando ele
discorda da dela. Ela pode falar baixo e pausadamente o que pensa, sente e quer e, por fim, decidir o quanto pode e quer flexibilizar seu desejo
em nome do relacionamento que quer construir com ele.
E de conversa em conversa, eles vão se tornando mais íntimos, mais confiantes e mais cúmplices um do outro. O amor vai ficando evidente na
atitude, muito mais do que apenas nas palavras. E Vitória tem se tornado cada vez mais convicta de que é ela mesma quem determina como vai
se sentir em relação ao outro e ao mundo.
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